UE ameaça vetar acordo da COP30 e expõe crise nas negociações climáticas

O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e a CEO da conferência, Ana Toni. — Foto- Rafa Neddermeyer

A União Europeia elevou a tensão diplomática na COP30, em Belém, ao sinalizar que pode bloquear o acordo final caso o texto não inclua metas claras para a redução do uso de combustíveis fósseis. O rascunho divulgado nesta madrugada suprimiu qualquer menção a petróleo, gás natural e carvão, frustrando ambientalistas e gerando forte reação de países que defendem um plano global de transição energética.

O bloco europeu contestou duramente o documento, que considerou “fraco” e “desconectado da ciência”. Em reunião fechada, o comissário de Clima, Wopke Hoekstra, afirmou que o texto “não tem ciência, não tem transição e mostra fraqueza”, reiterando que a UE não aceitará um acordo sem mudanças substanciais. Apesar da crítica pública, a União Europeia também vem sofrendo pressão de organizações que a acusam de resistir à ampliação de recursos para países vulneráveis.

A supressão de compromissos relacionados aos combustíveis fósseis tornou-se o ponto central do impasse. Governos e entidades afirmam que não há como avançar no combate ao aquecimento global sem um roteiro concreto para abandonar as fontes energéticas mais poluentes. O Observatório do Clima classificou o “Pacote de Belém” como desequilibrado e insuficiente, destacando que o texto não atende à exigência apresentada pelo presidente Lula e apoiada por 82 países.

A cobrança internacional segue intensa. Mais de 30 nações, incluindo França, Alemanha, Reino Unido e Colômbia, enviaram carta conjunta defendendo que o mapa de transição energética permaneça no rascunho final. Para esses países, um acordo que ignore o fim progressivo dos combustíveis fósseis seria incompatível com as metas globais de limitar o aquecimento a 1,5°C.

Organizações ambientais reforçaram o coro. Greenpeace e outras entidades criticaram a ausência de diretrizes sobre descarbonização e apontaram um retrocesso em relação às propostas iniciais. A diretora do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirmou que o processo “perdeu seu roteiro” e que a COP não pode seguir “tateando no escuro” enquanto o tempo se esgota para limitar os impactos da crise climática.

Com pressões crescentes e divergências profundas entre países desenvolvidos e nações do Sul Global, as próximas horas serão decisivas para definir se a COP30 conseguirá entregar um acordo robusto — ou se terminará marcada por um dos maiores impasses diplomáticos da agenda climática recente.

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