
As eleições legislativas antecipadas em Portugal, realizadas no domingo (18), terminaram com a vitória da Aliança Democrática (AD), coalizão de centro-direita liderada por Luís Montenegro. Apesar de conquistar o maior número de cadeiras no Parlamento, a AD não alcançou maioria para governar sozinha, revelando um cenário político ainda fragmentado e instável no país. Com 89 cadeiras e 32,1% dos votos, Montenegro afirmou que irá formar um governo minoritário e descartou alianças com o partido de extrema-direita Chega.
O Chega, liderado por André Ventura, obteve um desempenho histórico, com 58 cadeiras e mais de 1,3 milhão de votos, tornando-se o terceiro maior partido e ameaçando o Partido Socialista como principal força de oposição. O avanço expressivo da sigla, com pautas anti-imigração e propostas polêmicas como a castração química de estupradores, marcou uma virada política que desafia o bipartidarismo vigente em Portugal desde o fim da ditadura.
Ventura celebrou os resultados como o fim do domínio político de socialistas e sociais-democratas. “Nada será como antes”, afirmou diante de apoiadores em Lisboa, destacando a ruptura com as previsões das pesquisas eleitorais. Fundado há apenas seis anos, o Chega tem se alinhado a partidos de extrema-direita europeus como o Reunião Nacional, de Marine Le Pen, e o AfD, da Alemanha.
A nova composição parlamentar indica dificuldades para aprovar reformas estruturais e projetos estratégicos, como a mineração de lítio e a privatização da TAP, além de comprometer a utilização dos fundos da União Europeia. É a terceira eleição legislativa em três anos, reflexo de uma instabilidade política crônica que mina a confiança do eleitorado.
A queda dos socialistas, que perderam 20 cadeiras e devem passar à terceira posição, levou o líder Pedro Nuno Santos a anunciar sua renúncia. Em Lisboa, o crescimento do Chega gerou apreensão entre eleitores. “Estamos em perigo”, disse Antonio Albuquerque, de 65 anos, comparando Ventura ao ex-presidente americano Donald Trump. A insatisfação política, somada à radicalização do discurso, aponta para um novo e incerto capítulo na democracia portuguesa.