Unicef alerta: obesidade infantil supera desnutrição pela 1ª vez no mundo

Foto Marcello Casal Jr.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou nesta quarta-feira (10) um relatório inédito que revela uma mudança histórica no quadro nutricional global: a obesidade infantil superou a desnutrição como a forma mais comum de má nutrição entre crianças e adolescentes. Segundo os dados, uma em cada cinco pessoas de 5 a 19 anos no mundo está acima do peso, o que representa 391 milhões de indivíduos, sendo 188 milhões com obesidade.

O levantamento, que abrange mais de 190 países, aponta que a desnutrição caiu de 13% para 9,2% entre 2000 e 2025, enquanto os índices de obesidade cresceram de 3% para 9,4% no mesmo período. A tendência só não se confirma na África Subsaariana e no Sul da Ásia, onde a desnutrição ainda predomina. Para o Unicef, ambientes alimentares prejudiciais, marcados pelo consumo crescente de ultraprocessados, explicam o avanço.

O Brasil já vive essa realidade há décadas. Em 2000, 5% das crianças e adolescentes apresentavam obesidade, contra 4% em situação de desnutrição. Em 2022, a obesidade triplicou, alcançando 15%, enquanto a desnutrição caiu para 3%. O sobrepeso dobrou e já atinge 36% dessa população. Ainda assim, o país foi citado como exemplo positivo por adotar medidas como restrições a ultraprocessados na merenda escolar, rotulagem frontal de alimentos e proibição de gorduras trans.

A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, reforçou que a obesidade infantil não se trata de uma escolha individual, mas de um cenário em que “alimentos ultraprocessados substituem frutas, vegetais e proteínas justamente quando a nutrição é decisiva para o desenvolvimento físico e cognitivo”. O relatório alerta que a condição aumenta riscos de doenças graves, como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares, além de pressionar os sistemas de saúde.

O impacto econômico também preocupa. A projeção do Unicef é que, se nada for feito, o custo global associado ao sobrepeso e à obesidade ultrapasse US$ 4 trilhões por ano até 2035, afetando especialmente países de baixa e média renda.