
Alunos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) continuam se destacando e mostrando a força do ensino na carreira e no mercado de trabalho. Um exemplo inspirador é o da egressa do curso de Direito Nataly Cabral, advogada com deficiência visual que, recentemente, realizou uma sustentação oral em defesa de um consumidor vítima de cobrança abusiva por uma operadora de telefonia. O resultado foi a garantia de indenização por danos morais e materiais ao cliente.
Para Nataly a conquista é muito relevante, uma vez que a decisão judicial de primeiro grau, de primeira instância, foi negativa. A decisão da reforma de sentença ocorreu no dia 28 de agosto, durante uma videoconferência da Sessão de Julgamento da Segunda Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM).
O reitor da UEA, Prof. Dr. André Zogahib, ressaltou que a trajetória de Nataly Cabral representa a missão da universidade de transformar vidas por meio da educação. “A trajetória de Nataly nos enche de orgulho e simboliza o verdadeiro papel da UEA: transformar vidas por meio da educação. Ela é um exemplo de superação, dedicação e de como o conhecimento pode abrir portas, mesmo diante das maiores dificuldades. Histórias como a dela inspiram nossos alunos, professores e toda a comunidade acadêmica a acreditar na força da inclusão e da perseverança”, pontuou.
Natural do município de Benjamin Constant (distante 1.118 quilômetros de Manaus), a advogada perdeu totalmente a visão ainda bebê devido a uma doença chamada retinoblastoma. Com o sonho de ingressar em uma universidade pública, em 2016, conquistou uma vaga no curso de Direito, pelo Sistema de Ingresso Seriado (SIS) da UEA.
O momento de alegria também trouxe mudanças. Nataly iniciou a graduação em Tabatinga, passando os três primeiros anos no município. Por motivos de saúde e logística, ela precisou pedir transferência para Manaus, onde conseguiu finalizar o curso.
O estudo de Nataly se dava pela internet, por meio de videoaulas. Ainda quando estava no interior, ela sentia dificuldades de acesso à rede, pois “na época, a internet era algo muito escasso”, afirmou. Ela acordava de madrugada para estudar, era o momento em que a internet estava melhor. Apesar das dificuldades, Nataly contou com ajuda de amigos durante a estadia em Tabatinga, relembrando momentos, como os de colegas que baixavam as videoaulas e enviavam em um HD para ela. “A nossa turma do interior, a gente tentava se ajudar ali, em alguns pontos”, disse.
Segundo a egressa, o Sistema de Tutorias da UEA também foi de grande ajuda para desenvolver os estudos nos dois municípios. Na oportunidade, ela agradeceu o apoio das tutoras e, também, de docentes que teve na universidade. “É algo que me orgulha, que me alegra. Eu gosto de falar sobre a UEA, aonde eu sei que enfrentei dificuldades. Sei que as pessoas do interior enfrentam dificuldades, especialmente, ao entrar em um curso de Direito, que exige bastante da gente, mas, sinceramente, não me arrependo da minha trajetória. Fico muito feliz pelas escolhas que fiz e pelas oportunidades que Deus me deu”, contou.
Hoje em dia, Nataly é estudante do curso de especialização em Licitações e Contratos Administrativos da UEA, modalidade Educação a Distância (Ead).
Inclusão no mercado de trabalho
Atualmente, Nataly atua em um escritório de advocacia realizando as sustentações orais. “Eu tenho contato com algumas pessoas, tenho colegas da área, mas eu entendo que é mais difícil. Não é todo mundo que enxerga capacidade de uma pessoa com deficiência e, ali dentro, viram um potencial em mim”, ressaltou.
Para se adaptar, a advogada utiliza da tecnologia ao seu favor, como o celular que faz leitura de mensagens de texto, aplicativos que possam descrever as imagens enviadas a ela, sendo, segundo a advogada, “benefício de auxiliar nas nossas impossibilidades, nas nossas limitações, e isso se reflete muito na minha vida”.
“Quando eu tenho uma sustentação para realizar, o escritório envia o processo com dois dias de antecedência, eu faço a leitura, a análise do processo, elaboro ali dentro daquilo. Tenho muita abertura para pedir orientações. Às vezes até o doutor Lucas, que é com quem eu trabalho, faz alguns apontamentos que me auxiliam muito. E eu tenho essa liberdade para esclarecer dúvidas”, comentou sobre o processo.
Sustentação oral
Durante a videoconferência, ocorrida no dia 28 de agosto, Nataly defendeu Luiz Alves Feitosa, 56 anos, que havia sido vítima de cobranças abusivas. Na oportunidade, a advogada apresentou que o cliente havia aderido a um plano telefônico no valor de R$ 45,00 para obter acesso ao básico, como internet e ligações. No entanto, com o passar dos meses, o valor foi aumentando até chegar em R$ 197,00.
De acordo com Nataly, ao tentar resolver a situação, Luiz acabou sendo induzido a assinar um plano maior. Baseado na ausência de provas de consentimento para os aumentos e na inconsistência dos contratos apresentados, requereu a reforma da sentença.