Trabalhadores de app ganham mais, mas enfrentam jornadas e informalidade maiores

Os trabalhadores que atuaram por meio de aplicativos em 2024 tiveram rendimento médio mensal de R$ 2.996, valor 4,2% superior ao dos que não utilizam plataformas digitais, cuja média foi de R$ 2.875. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da vantagem nos ganhos, o levantamento mostra que o resultado vem acompanhado de jornadas mais longas e menor proteção social.

De acordo com o estudo, os chamados “trabalhadores plataformizados” trabalharam, em média, 44,8 horas semanais, enquanto os demais, 39,3 horas. Na prática, isso significa que, embora tenham renda mensal superior, o ganho por hora dos que dependem de aplicativos é menor: R$ 15,4, contra R$ 16,8 dos não plataformizados. Ou seja, quem atua por meio de plataformas precisa se dedicar mais tempo para obter uma renda ligeiramente maior.

O IBGE estimou em 1,7 milhão o número de brasileiros cuja principal forma de trabalho é mediada por aplicativos, entre motoristas, entregadores e prestadores de serviços. O fenômeno, embora represente uma alternativa de renda e autonomia, também reforça o avanço da informalidade: 71,7% desses trabalhadores não possuem registro formal ou contribuem para a Previdência Social — proporção muito acima dos 43,8% observados no mercado geral.

O levantamento mostra ainda que a diferença de rendimento varia conforme o nível de escolaridade. Trabalhadores com ensino fundamental ou médio incompleto tiveram ganhos até 50% maiores quando atuaram por aplicativos. Em contrapartida, entre aqueles com ensino superior, o cenário se inverte: o rendimento dos plataformizados foi quase 30% menor do que o dos profissionais que não utilizam apps. Segundo o analista do IBGE, Gustavo Fontes, muitos graduados migram para o trabalho digital após não conseguirem vagas em suas áreas de formação.

Entre as categorias analisadas, os motoristas e motociclistas destacam-se pelo aumento expressivo da atuação via aplicativos. Em 2024, o país registrou 824 mil motoristas plataformizados, com renda média mensal de R$ 2.766 — cerca de R$ 341 acima dos não plataformizados. No caso dos motociclistas, o ganho médio foi de R$ 2.119, 28,2% superior ao de quem não trabalha por app. Ainda assim, a informalidade chega a 84% entre os condutores de moto que utilizam plataformas digitais.

A pesquisa revela que, embora a tecnologia tenha criado novas formas de ocupação, ela também ampliou desafios trabalhistas. O alto número de trabalhadores sem vínculos formais e sem contribuição previdenciária acende o alerta sobre a falta de segurança social. Apenas 35,9% dos plataformizados contribuem para a Previdência, contra 61,9% dos demais ocupados.

A crescente discussão sobre a regulamentação desses vínculos chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que deve retomar em novembro o julgamento sobre o reconhecimento de vínculo empregatício entre trabalhadores e plataformas digitais. A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra o reconhecimento automático, defendendo a necessidade de critérios específicos. Enquanto isso, o setor segue em expansão, equilibrando ganhos imediatos e incertezas sobre o futuro das relações de trabalho.