
Com a aproximação da entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre alimentos brasileiros como carne, café e tilápia, o mercado nacional já começa a sentir os primeiros impactos. Embora a taxação seja paga por empresas americanas, os efeitos indiretos podem chegar às gôndolas dos supermercados brasileiros nos próximos meses, reforçando ou atenuando tendências de preços já existentes.
A carne bovina, por exemplo, deve viver uma oscilação. Inicialmente, a queda nas exportações pode aumentar a oferta interna e reduzir os preços. No entanto, especialistas alertam que, no médio prazo, a tendência é de alta.
“Com menos exportações, o produtor abate menos. Isso já vinha acontecendo por conta da retenção de fêmeas, e o tarifaço pode agravar esse movimento”, afirma Wagner Yanaguizawa, do Rabobank.
Os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, atrás apenas da China, e importam especialmente cortes dianteiros, usados em hambúrgueres.
Já o café tende a ter um comportamento mais estável. Segundo Celírio Inácio, da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), as exportações devem continuar, ao menos no curto prazo, e os estoques atuais dos importadores norte-americanos podem suavizar o impacto. Ainda assim, analistas apontam que a manutenção prolongada das tarifas pode provocar oscilações, tanto de alta quanto de baixa, dependendo do redirecionamento da produção e da resposta do mercado global.
O maior impacto imediato deve vir do setor de piscicultura. Com 90% da exportação de tilápia brasileira voltada aos EUA, o redirecionamento da produção para o mercado interno tende a gerar queda de preços, ao menos temporariamente.
“O consumidor pode se beneficiar com preços mais baixos, mas a cadeia produtiva corre risco de colapso se o excedente for mantido no mercado interno sem estrutura para absorvê-lo”, alerta Eduardo Lobo, da Abipesca.
O cenário ainda é incerto e depende de fatores como a duração da medida imposta por Donald Trump, a capacidade brasileira de buscar novos mercados e o comportamento dos consumidores. No curto prazo, o tarifaço tende a causar desequilíbrios setoriais: carne deve subir após queda momentânea, café se mantém estável e tilápia pode baratear — com efeitos que variam de acordo com a região e a dinâmica de distribuição.