Lula cobra regras globais para IA e reforça papel do Brics contra monopólio das big techs

Foto Fernando Frazão

Durante a abertura do Fórum Empresarial do Brics, neste sábado (5), no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a criação de uma governança multilateral sobre inteligência artificial (IA). Segundo ele, o avanço da tecnologia sem regras globais pode acentuar desigualdades e permitir que modelos criados por grandes empresas se imponham sobre os interesses coletivos. “Os riscos e efeitos colaterais da IA demandam uma governança multilateral. Não podemos deixar que poucos decidam por todos”, afirmou.

A declaração ocorre no contexto da presidência brasileira no Brics, bloco formado por 11 países-membros e dez nações parceiras. Para Lula, o momento é estratégico para que os emergentes tenham protagonismo nas decisões que envolvem o futuro digital. O Brasil propôs a construção de diretrizes comuns sobre IA no bloco, com foco em transparência, segurança e uso responsável das tecnologias, principalmente diante do avanço de sistemas gerados por big techs.

Lula também reforçou o papel do Brics como uma alternativa à ordem internacional tradicional. Em seu discurso, chamou o grupo de “polo aglutinador de economias dinâmicas” e defendeu uma nova agenda de desenvolvimento baseada em infraestrutura sustentável, bioeconomia, agricultura verde e cooperação Sul-Sul. O presidente ainda alertou sobre o ressurgimento de políticas protecionistas e a necessidade de os emergentes reformarem a arquitetura financeira internacional.

O discurso de Lula teve ainda um viés social e político. Ele destacou a importância da presença de mulheres na economia e na política, afirmando que as conquistas femininas não devem depender de concessões masculinas:

“O lugar que vocês querem ocupar depende exclusivamente da ousadia de vocês”. Também mencionou o vínculo entre paz e desenvolvimento, e condenou a multiplicação de guerras no cenário global. Para ele, “não haverá prosperidade em um mundo conflagrado”.

A cúpula do Brics, que começa neste domingo (6), no Rio de Janeiro, deve reunir chefes de Estado e representantes de países-membros como Índia e África do Sul. Entre os temas prioritários estão financiamento climático, combate à pobreza, segurança digital e expansão do acesso a tecnologias. A presidência brasileira mira o fortalecimento de alianças entre os países do Sul Global, em um esforço diplomático para reposicionar o bloco como voz relevante nos debates multilaterais.