
Ações em Hong Kong registram queda histórica de 13% após tarifas dos EUA e retaliação da China, reacendendo temores de recessão global.
Os mercados financeiros começaram a semana em queda livre, liderados pela Bolsa de Hong Kong, que despencou 13,22% nesta segunda-feira (7), marcando sua pior performance diária desde 1997, ano da crise financeira asiática. O colapso foi provocado pela escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, após o presidente Donald Trump anunciar tarifas de até 34% sobre importações chinesas, prontamente retaliadas por Pequim.
A resposta do governo chinês, anunciada na sexta-feira, pegou o mercado asiático de surpresa, já que as bolsas estavam fechadas devido a um feriado. Com o retorno das negociações nesta segunda, os investidores reagiram com forte pessimismo. As bolsas de Xangai, Tóquio, Seul e Sydney também fecharam em queda acentuada, refletindo o temor de um impacto severo sobre o comércio global.
A medida de Trump, que instituiu tarifas recíprocas de no mínimo 10% para dezenas de países — incluindo Brasil e Argentina —, prevê percentuais maiores para a China (34%) e União Europeia (20%), em uma tentativa de reduzir os déficits comerciais dos EUA. O presidente norte-americano defendeu as tarifas como uma “ação necessária” para proteger a indústria americana, mas analistas alertam para os riscos de uma recessão global.
Na Europa, os mercados seguiram a tendência asiática e também amargaram perdas expressivas. Frankfurt caiu 7,86%, Paris recuou 6,19% e Londres teve baixa de 5,83%. Ao todo, mais de 50 países já iniciaram contatos com Washington em busca de exceções ou renegociações tarifárias, mas o governo dos EUA tem sinalizado pouca margem para concessões imediatas.
Apesar de negar que tenha como objetivo provocar quedas nas bolsas, Trump ironizou nas redes sociais que “as tarifas são algo muito belo para os EUA”. Já o secretário de Comércio, Howard Lutnick, foi taxativo ao afirmar que as novas tarifas não serão adiadas e não estão sujeitas a negociação no curto prazo.
A incerteza em torno do posicionamento norte-americano também afetou os mercados de commodities. O petróleo WTI caiu para US$ 60,34, menor patamar desde 2021, e o Brent recuou para US$ 63,93. A queda se intensificou após a Opep+ anunciar que ampliará a produção a partir de maio.
Especialistas do JPMorgan avaliam que há 60% de chance de uma recessão global ainda neste ano, enquanto outros analistas projetam inflação elevada e desaceleração nos EUA, contrariando a avaliação do governo de que o impacto nos consumidores será mínimo.
Nesta segunda, os ministros do Comércio da União Europeia devem anunciar uma resposta conjunta ao pacote tarifário americano. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, já antecipou que “o mundo como o conhecíamos desapareceu”, em alusão ao colapso do sistema multilateral de comércio.
A crise tarifária reacende memórias da Grande Depressão, quando políticas protecionistas agravaram o colapso econômico global. Para economistas, Trump repete esse erro histórico ao desestabilizar cadeias produtivas e aumentar a incerteza nos mercados, num momento em que o comércio mundial já enfrenta desafios estruturais.