
O Palácio do Planalto avalia que as chances de reversão do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil são mínimas e que o impasse com Washington tende a se prolongar. Segundo integrantes do governo, o presidente Donald Trump mantém postura intransigente e centraliza pessoalmente as decisões sobre a guerra tarifária, o que esvazia a autonomia de seus auxiliares nas tratativas com outros países.
A sobretaxa de 50% para uma ampla gama de produtos brasileiros entrou em vigor na quarta-feira (6) e já afeta cerca de 35,9% das exportações destinadas ao mercado norte-americano. Embora setores como suco de laranja, petróleo e aeronaves tenham ficado de fora, itens como carne e café estão entre os mais prejudicados. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) estima que o impacto sobre a balança comercial será significativo.
Desde abril, quando a tarifa inicial de 10% foi anunciada, a diplomacia brasileira vem buscando canais de negociação. O vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, manteve conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com o encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar. O chanceler Mauro Vieira se encontrou com o secretário de Estado, Marco Rubio, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem reunião virtual prevista com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, no próximo dia 13.
Apesar desses contatos, a avaliação interna é de que Trump só recuará se puder apresentar um ganho político interno, como ocorreu nas negociações com Japão e União Europeia. Essa equação, no entanto, foi tensionada por uma exigência do republicano: que o Brasil encerre os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente em prisão domiciliar por tentativa de golpe. O governo Lula rechaça essa condição, classificando-a como interferência indevida no Judiciário e afronta à soberania nacional.
Paralelamente, há preocupação com possíveis novas sanções de Washington a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A tensão aumentou após a embaixada americana insinuar retaliações a aliados do ministro Alexandre de Moraes, que nesta semana determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro. Na última semana, Moraes foi alvo de sanção sob a Lei Magnitsky — instrumento jurídico que permite aos EUA punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou corrupção —, além de ter o visto americano revogado, medida estendida a outros sete ministros do STF.
Com a disputa comercial e diplomática ganhando contornos políticos e judiciais, a relação Brasil–EUA entra em uma fase delicada. Enquanto Trump mantém a pressão tarifária e insinua novos embates institucionais, o governo Lula tenta equilibrar defesa da soberania, proteção econômica e preservação dos canais diplomáticos, mas sem abrir mão de linhas vermelhas consideradas inegociáveis.