Globo revela que Edcley antecipou mais questões do Enem não anuladas pelo Inep

Edcley relembra mensagem enviada por ele mesmo em março e comemora 'acerto' — Foto- Arquivo pessoal

Mensagens obtidas pelo g1, da Rede Globo, revelam que o estudante de medicina Edcley Teixeira, já investigado por antecipar questões do Enem 2025 em uma live no YouTube, também divulgou previamente respostas de outras duas perguntas de matemática — ambas mantidas pelo Inep no gabarito oficial e não incluídas entre as três anuladas pelo governo federal. Os prints mostram que, ainda em março, oito meses antes da aplicação da prova, ele orientou alunos sobre alternativas corretas que apareceriam quase idênticas no exame de novembro.

As questões envolvem uma situação de probabilidade com lançamento de dados e um problema de concentração de soluções. Em ambas, números e estruturas são praticamente iguais aos apresentados pelo Enem. A coincidência reforça dúvidas sobre a origem do acesso às perguntas. Procurado, o Inep ainda não respondeu sobre esses dois itens específicos, apesar de já ter reconhecido e anulado apenas as questões citadas na live de Edcley dias antes da prova.

A nova revelação aprofunda o entendimento sobre o esquema montado por Edcley. Ele identificou que o Prêmio Capes de Talento Universitário utilizava questões que serviam como pré-teste para o Enem e passou a incentivar universitários a participar do concurso. Em troca de valores que começavam em R$ 10, recebia relatos detalhados das perguntas e montava um extenso “banco de itens”, que era posteriormente comercializado em mentorias e aulas.

No grupo de WhatsApp com centenas de alunos, o estudante não apenas antecipava conteúdos como também dava instruções diretas. Em 17 de março, ao mencionar a futura questão dos dados, ele escreveu:

“Pode marcar 125/216 sem medo de ser feliz… Nem leia”. O item reapareceu no Enem exatamente com esse resultado como resposta correta.

Situação semelhante ocorreu com o problema da solução líquida, que também foi reproduzido na prova com a mesma lógica matemática e resultado idêntico.

Após a aplicação do exame, Edcley comemorou publicamente os “acertos”. Nas conversas do grupo, resgatou as mensagens enviadas meses antes e celebrou a repetição das questões, afirmando que os alunos só errariam se não tivessem seguido seus materiais. Parte dessas mensagens, segundo o g1, foi inclusive republicada pelo próprio estudante em stories no Instagram, antes de o caso ganhar maior repercussão nacional.

As descobertas adicionam pressão sobre o Inep, que agora enfrenta novos questionamentos sobre a segurança do banco nacional de itens e sobre o processo de pré-testagem utilizado em diferentes avaliações. Enquanto isso, a Polícia Federal segue investigando o caso, que pode configurar fraude e violação de sigilo, reacendendo o debate sobre a integridade do principal exame educacional do país.