
Em meio a uma catástrofe humanitária sem precedentes, Israel anunciou nesta terça-feira (5) que permitirá a entrada gradual e controlada de mercadorias na Faixa de Gaza por meio de comerciantes locais. A medida, divulgada pela agência militar israelense Cogat, visa ampliar o volume de ajuda humanitária e reduzir a dependência das operações internacionais, como as coordenadas pela ONU. No entanto, a autorização chega tarde para milhares de famílias que enfrentam fome extrema e ausência de serviços básicos.
A Faixa de Gaza vive um colapso social e humanitário, com pelo menos seis pessoas morrendo de inanição no último domingo (3), segundo fontes israelenses. Segundo a ONU, são necessários cerca de 600 caminhões de ajuda por dia para atender minimamente às necessidades da população — um patamar que ainda está longe de ser alcançado. Organizações internacionais acusam Israel de restringir o acesso terrestre e afirmam que os lançamentos aéreos são insuficientes diante da escala da tragédia.
O drama dos reféns mantidos pelo Hamas acrescenta um tom ainda mais trágico à crise. Um vídeo divulgado recentemente mostra um israelense em estado de extrema desnutrição, “cavando sua própria cova” dentro de um túnel em Gaza. A cena chocou potências ocidentais e reavivou as críticas à condução do conflito por ambas as partes. Autoridades israelenses estimam que 50 reféns ainda estão em Gaza, dos quais apenas 20 seriam vivos. O Hamas, por sua vez, exige garantias humanitárias e corredores protegidos para liberar qualquer ajuda destinada a esses reféns.
Apesar dos esforços diplomáticos, o impasse persiste. As negociações para um cessar-fogo de 60 dias, que envolveriam também a libertação de parte dos reféns, não avançaram. O enviado dos EUA ao Oriente Médio, Steve Witkoff, afirmou em reunião com famílias israelenses que o governo Trump trabalha em um plano conjunto com Netanyahu para reconstruir Gaza e pôr fim ao conflito. Entretanto, o Hamas segue resistente à rendição e condiciona a desmilitarização à criação de um Estado palestino soberano, com capital em Jerusalém.
A guerra, iniciada após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 que matou 1.200 israelenses, já deixou mais de 60 mil palestinos mortos, conforme números das autoridades de Gaza. A destruição generalizada transformou Gaza em um território devastado, onde crianças morrem de fome e hospitais operam sem luz ou insumos básicos. Ainda assim, a resposta internacional segue tímida, limitada a apelos por mais acesso e a promessas não cumpridas.
O gesto anunciado por Israel, embora simbólico, escancara o dilema político que aprisiona civis inocentes em um jogo de forças entre governos, terror e diplomacia fracassada. Até que a vontade política supere os interesses estratégicos, a tragédia em Gaza seguirá se aprofundando — com ou sem entrada “controlada” de alimentos.