
O 67º Festival Folclórico do Amazonas viveu neste domingo (20) mais uma noite de pura celebração da cultura popular. O Centro Cultural Povos da Amazônia recebeu um público vibrante para acompanhar quadrilhas, grupos indígenas e espetáculos que misturaram tradição, crítica social e ancestralidade — em uma programação que reforçou o papel do festival como espaço de resistência e memória coletiva.
Abrindo a noite, a Quadrilha Tradicional Brotinho de Petrópolis emocionou com o espetáculo “Barco do Amor Navegando pelo Rio do Amazonas”, trazendo a força dos brincantes que há mais de 40 anos mantêm viva a tradição no bairro de Petrópolis.
“Fizemos o melhor com fé e animação. Estamos esperando a vitória”, disse Sueli Monteiro, uma das coordenadoras do grupo.
O grupo Cacetinho Belo Horizonte trouxe à arena o enredo “Sou raiz, sou memória, sou ancestralidade”, inspirado nos rituais e crenças do povo Kayapó. O espetáculo destacou a relação espiritual com a canoa, símbolo de passagem e proteção.
“A canoa tem alma e leva nossos ancestrais. Essa crença inspirou nosso espetáculo”, contou Leandro Santiago, criador artístico.
As críticas sociais também tiveram espaço. A Quadrilha Caipira na Roça apostou em uma abordagem ousada ao apresentar “Roque Santeiro — A Saga”, um olhar sobre como mitos e heróis populares podem ser manipulados por interesses políticos e midiáticos. “Queremos provocar reflexão sobre quem cria nossos símbolos e com quais intenções”, afirmou o coreógrafo Eduardo Cunha.
As tribos indígenas deram o tom de resistência. Os Kayapós, com “O Grito da Amazônia”, denunciaram crimes ambientais e a exploração da floresta. Já a Tribo Mura apresentou um espetáculo que valorizou a cultura ribeirinha e o envolvimento de jovens da periferia. “Retratamos nossa origem com amor e orgulho”, disse o diretor Will Oliveira.
Entre as quadrilhas, a Coração São João se destacou com “Retalhos de um São João”, que abordou a luta dos trabalhadores e a esperança em tempos difíceis. A noite encerrou em alta com a Quadrilha Tradicional Explosão Junina na Roça e o espetáculo “A Utopia Nordestina”, exaltando a cultura do sertão e a figura de Maria Bonita. “Estudamos tudo para representar com respeito a cultura nordestina”, contou Mara Souza, intérprete da personagem.
Com estrutura acessível para pessoas com deficiência e entrada gratuita, o festival reafirma seu papel como espaço de expressão e inclusão. Nesta segunda (21), a programação segue a partir das 20h, reunindo novas atrações e mantendo viva a força do folclore amazonense.