Evangélicos já são mais de 1/4 da população brasileira, aponta IBGE

Foto Fernando Frazão

Dados do Censo 2022, divulgados pelo IBGE, revelam que 26,9% da população brasileira com 10 anos ou mais se declara evangélica. Isso representa um salto de 5,3 pontos percentuais em relação a 2010, quando esse grupo somava 21,6%. A religião segue como a segunda maior do país, atrás apenas do catolicismo, mas com forte presença nas faixas etárias mais jovens.

A pesquisa mostra que o ritmo de crescimento dos evangélicos desacelerou em comparação com décadas anteriores, embora continue relevante. Entre 2000 e 2010, o avanço havia sido de 6,5 pontos percentuais, e entre 1991 e 2000, 6,1 pontos. Ainda assim, a projeção é de que os evangélicos possam alcançar os católicos em representatividade nos próximos anos, caso a tendência se mantenha.

Catolicismo perde fiéis e se aproxima da metade da população

Mesmo ainda sendo a religião com mais adeptos, o catolicismo caiu de 65% para 56,7% entre 2010 e 2022. O recuo acompanha uma trajetória histórica: em 1872, 99,7% dos brasileiros eram católicos. O Censo mostra que essa religião predomina entre pessoas acima dos 30 anos, atingindo 72% entre idosos com mais de 80 anos, mas perdendo espaço entre os mais jovens.

A maior proporção de católicos está nas regiões Nordeste (63,9%) e Sul (62,4%), enquanto o Norte registra a menor taxa, com 50,5%. O Piauí lidera entre os estados com maior número de católicos (77,4%), e Roraima aparece na outra ponta, com apenas 37,9%.

Norte do Brasil lidera em proporção de evangélicos

A Região Norte se destaca com a maior proporção de evangélicos do país: 36,8% da população se declara adepta dessa fé, bem acima da média nacional. O Acre é o estado com maior percentual (44,4%), e o Amazonas também figura entre os destaques, com municípios como Manacapuru ultrapassando 50% de evangélicos.

Esse cenário pode ser associado a diferentes fatores, como o avanço de igrejas pentecostais em áreas ribeirinhas e urbanas, a atuação social intensa dessas comunidades e a maior penetração em regiões historicamente menos alcançadas pela Igreja Católica. A tendência aponta para uma reorganização do mapa religioso no Norte, com forte protagonismo evangélico.

Jovens impulsionam a diversidade religiosa

A pesquisa revela que os evangélicos concentram a maior presença entre os mais jovens: 31,6% dos brasileiros entre 10 e 14 anos seguem essa fé. O índice se mantém elevado até os 49 anos e só começa a cair entre os mais velhos. Já os católicos são maioria entre os mais idosos, o que reforça a ideia de que as novas gerações estão moldando um novo perfil religioso.

Os “sem religião”, grupo que inclui ateus, agnósticos e pessoas sem filiação religiosa, também cresceram, passando de 7,9% para 9,3%. Esse movimento está ligado, segundo o IBGE, a transformações culturais, avanços da ciência e maior liberdade individual para expressar a não crença.

Revalorização das religiões de matriz africana

Religiões como umbanda e candomblé, muitas vezes invisibilizadas por medo da intolerância, registraram crescimento significativo: de 0,3% para 1% em 12 anos. O avanço é atribuído a movimentos de combate ao racismo religioso e à maior afirmação pública de fiéis dessas tradições.

A Região Sul se destaca nesse quesito, especialmente o Rio Grande do Sul, onde 3,2% da população segue religiões afro-brasileiras. A ampliação do debate sobre diversidade religiosa no país pode estar contribuindo para essa retomada.

Outras crenças e minorias religiosas

O Censo também identificou aumento nas “outras religiosidades”, grupo que reúne judaísmo, islamismo, budismo, tradições esotéricas e religiões orientais, que passou de 2,7% para 4%. Tradições indígenas, antes não computadas, agora aparecem com 0,1%.

O estado de Roraima lidera em proporções dessas crenças minoritárias: 1,7% seguem tradições indígenas, 7,8% têm outras religiosidades e 16,9% não têm religião — mesmo índice do Rio de Janeiro, que também se destaca com 3,5% de espíritas.

Mulheres são maioria entre os religiosos

A pesquisa revela que as mulheres são maioria entre quase todas as religiões. Elas representam 55,4% entre os evangélicos, 60,6% entre os espíritas e 56,7% nas religiões de matriz africana. Apenas entre os sem religião e nas tradições indígenas os homens são maioria.

Essa predominância feminina na religiosidade pode estar relacionada a aspectos culturais, sociais e à maior participação das mulheres em espaços de fé e organização comunitária.

Cor, raça e fé: um retrato da diversidade

Entre pessoas autodeclaradas brancas, 60,2% são católicas e 23,5% evangélicas. Já entre pretos e pardos, os evangélicos têm presença mais expressiva: 30% e 29,3%, respectivamente. A fé evangélica, neste caso, desponta como mais disseminada nas periferias urbanas e entre as populações negras e pobres.

O dado reforça que a religião no Brasil é também um marcador de questões sociais e raciais, refletindo desigualdades históricas e dinâmicas de inclusão.

Escolaridade e religião: contrastes relevantes

Os espíritas são o grupo religioso com maior nível de escolaridade: 48% têm ensino superior completo. Em seguida vêm umbanda e candomblé (25,5%) e outras religiosidades (23,6%). Entre os católicos, esse índice é de 18,4% e entre os evangélicos, 14,4%.

Entre as pessoas com menor escolaridade, o Censo registrou que tradições indígenas e católicos lideram em proporções de analfabetismo, com 24,6% e 7,8%, respectivamente.

Municípios com perfil religioso majoritário

Os católicos ainda são maioria em 4.881 municípios brasileiros. Em 20 deles, a religião predomina em mais de 95% da população, sobretudo no Rio Grande do Sul. Por outro lado, os evangélicos são maioria em 58 municípios, como Manacapuru (AM) e Arroio do Padre (RS).

A dispersão regional reforça a complexidade do perfil religioso do país e a influência de migrações, história e ocupações sobre as crenças locais.

Catolicismo e envelhecimento da fé

O recorte por idade mostra que o catolicismo é mais presente entre as gerações mais velhas. Entre os jovens de 20 a 29 anos, apenas 51,2% são católicos, enquanto entre os que têm mais de 80 anos, esse número sobe para 72%.

Esse envelhecimento da fé católica acende um alerta para a necessidade de renovação e diálogo com as novas gerações, que demonstram maior fluidez religiosa ou desvinculação institucional.

Fé e formação: religião impacta o acesso à educação

Os dados do Censo mostram também uma correlação entre religião e educação. Os evangélicos, por exemplo, têm a terceira maior taxa de analfabetismo (5,4%), atrás de católicos (7,8%) e tradições indígenas (24,6%). Já espíritas apresentam o menor índice (1%) e a maior taxa de ensino superior.

O dado chama atenção para a necessidade de políticas educacionais mais inclusivas, especialmente voltadas a populações com menor acesso à formação acadêmica.

Declínio e resistência das crenças tradicionais

Enquanto o catolicismo perde fiéis, outras religiões crescem ou resistem à margem da hegemonia. Mesmo com poucos adeptos, o Censo mostra que há espaço crescente para a pluralidade religiosa no país, ainda que marcada por desigualdades.

Religiões tradicionais indígenas, afro-brasileiras e orientais ganham visibilidade, ainda que lentamente, diante do cenário de intolerância e preconceito que ainda persiste em muitas regiões.

Brasil plural: um mosaico de crenças em transformação

O novo mapa religioso do Brasil reflete mudanças sociais, geracionais e culturais. O avanço evangélico, a queda católica, o crescimento das religiões de matriz africana e o aumento dos sem religião indicam uma sociedade em transição, cada vez mais plural, complexa e marcada por tensões entre fé, identidade e cidadania.

Esses dados ajudam a compreender não apenas onde e como creem os brasileiros, mas também revelam aspectos profundos da estrutura social, política e cultural do país.

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