Estudo mostra que desmatamento acelera seca e calor na Amazônia

Desmatamento Imagem “Terra Indígena Pirititi, Roraima”. Imagem por Felipe Werneck:/bama

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontou que o desmatamento responde por 74,5% da redução das chuvas e por 16,5% do aumento das temperaturas na Amazônia durante o período de seca. A análise, publicada na revista Nature, avaliou 35 anos de dados e constatou que a floresta aqueceu cerca de 2 °C entre 1985 e 2020, com a estiagem se tornando cada vez mais prolongada e severa. Segundo os cientistas, a continuidade desse ritmo de devastação pode levar a extremos climáticos ainda mais críticos já a partir de 2035.

O levantamento dividiu a região em 29 blocos de monitoramento, combinando informações de temperatura, precipitação e cobertura vegetal com alta precisão. Os resultados indicam que até perdas relativamente pequenas, a partir de 10% da vegetação nativa, já provocam quedas significativas nas chuvas e aumentos de temperatura. Em áreas mais desmatadas, como no sudeste do bioma, os impactos locais se somam aos efeitos do aquecimento global, ampliando riscos para comunidades, biodiversidade e até para a produção agrícola, como já ocorre com a queda da chamada “safrinha”.

Os pesquisadores destacam que o estudo fornece parâmetros concretos para governos, empresas e organizações avaliarem responsabilidades e estratégias de mitigação. Para eles, a Amazônia está em um estágio crítico, sem margem para novos fatores de estresse, como grandes empreendimentos e expansão agrícola descontrolada. Com 14% da cobertura original já perdida desde 1985 — área equivalente ao território da França —, a floresta segue ameaçada pelo fogo e pela pressão do uso da terra, apesar da redução recente nas taxas de desmatamento.