Disputa por minerais raros na Elevação do Rio Grande intensifica tensão Brasil-EUA

Imagens feitas com veículo não tripulado mostram cânion que corta Elevação do Rio Grande — Foto- Luigi Jovane:USP

A Elevação do Rio Grande, um território marítimo de 500 mil km² localizado a 1.200 km da costa do Rio Grande do Sul, entrou no centro de uma disputa geopolítica. Estudos da USP revelam que a região é rica em terras raras — minerais estratégicos para tecnologias de energia limpa e indústria de ponta — e chamou a atenção dos Estados Unidos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou, nesta quinta-feira (24), o interesse americano, afirmando que “ninguém põe a mão nos recursos do povo brasileiro”.

Desde 2018, o Brasil reivindica formalmente à ONU a extensão de sua plataforma continental para incorporar a Elevação do Rio Grande. A proposta está sob análise da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) e ainda não possui previsão de decisão. Enquanto isso, especialistas alertam que, por não ser signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, os EUA não estariam sujeitos a sanções caso decidam explorar a área.

“É um fator de barganha na política externa, assim como as tarifas comerciais e temas tecnológicos”, avalia João Gabriel Burmann, professor de Relações Internacionais da Uniritter.

O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, confirmou que representantes da diplomacia americana demonstraram interesse nos minerais críticos da região. A movimentação ocorre em meio à crescente disputa global por terras raras, insumos essenciais para baterias, semicondutores e turbinas eólicas, setores dominados pela China — principal concorrente geopolítica de Washington. Para especialistas, o Brasil deve adotar uma postura firme e estratégica para evitar perder protagonismo nessa disputa.

Apesar das tensões, analistas acreditam que o caminho mais provável é a negociação bilateral.

“O Brasil tem expertise em exploração submarina, como o pré-sal, o que torna a cooperação mais viável que um embate direto”, afirma João Jung, da PUCRS.

O interesse internacional pela Elevação do Rio Grande, contudo, evidencia a importância de acelerar a definição jurídica da área e de posicionar o país como líder na exploração sustentável de minerais estratégicos.