
A disputa territorial entre Peru e Colômbia por uma ilha formada no rio Amazonas escalou nas últimas semanas e já envolve demonstrações militares em plena tríplice fronteira com o Brasil. A ilha de Santa Rosa, surgida recentemente por sedimentação, é reivindicada pelos dois países e tornou-se palco de um impasse diplomático com forte componente estratégico.
O episódio mais recente ocorreu nesta semana, quando o governo peruano enviou tropas para a ilha e hasteou dezenas de bandeiras nacionais no local. A medida foi uma resposta às declarações do presidente colombiano, Gustavo Petro, que questionou a presença militar peruana e defendeu a revisão do tratado que delimitou a fronteira há quase cem anos — documento que não contempla a nova formação territorial.
Em paralelo, as Forças Armadas da Colômbia reforçaram a segurança na cidade de Letícia, situada em frente à ilha, e autoridades dos dois países visitaram a região para marcar posição.
Segundo a Colômbia, o Peru teria se apropriado de um território ainda indefinido juridicamente. Já Lima afirma que a ilha está em sua jurisdição e integra o município criado em julho na área. Projeções de institutos dos dois países apontam que, até 2030, mudanças no curso do rio podem direcionar todo o fluxo para o lado peruano, deixando Letícia sem acesso direto ao Amazonas.
Para moradores locais, a identidade da ilha já é claramente peruana. “Tudo aqui é e sempre foi peruano: a comida, as pessoas, as escolas, a bandeira”, disse Arnold Pérez, residente em Santa Rosa.
Com o leito do rio cada vez mais instável devido a alterações ambientais, a disputa tende a se tornar um dos principais focos de tensão diplomática na região. Além de definir a soberania sobre Santa Rosa, o impasse pode redesenhar o acesso de cada país ao maior rio do planeta, afetando comércio, transporte e a presença geopolítica no coração da Amazônia.