Defesa de general amplia pressão sobre Bolsonaro e expõe tensões no STF

General Paulo Sérgio Nogueira (ao centro) e o advogado Andrew Fernandes Farias (à esq.) — Foto: Antonio Augusto/STF

A defesa do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, surpreendeu o Supremo Tribunal Federal (STF) ao afirmar que o militar teria tentado demover Jair Bolsonaro de adotar medidas de exceção após as eleições de 2022. A narrativa, apresentada pela equipe jurídica do general, colocou o ex-presidente no epicentro da tentativa de golpe, alterando a dinâmica do julgamento e irritando aliados políticos e advogados de outros réus.

A contundência do discurso repercutiu dentro e fora do plenário. Ministros do Supremo avaliaram que a fala foi mais incisiva do que o esperado e ressaltaram o peso político da menção direta a Bolsonaro em episódios antes tratados de forma difusa. Uma intervenção da ministra Cármen Lúcia, ao questionar “demover de quê?”, reforçou a leitura de que a defesa assumiu papel determinante na reconstrução dos fatos que envolvem o núcleo da trama golpista.

Nos bastidores, aliados do ex-presidente reagiram com indignação. Publicações em redes sociais e manifestações de antigos auxiliares revelaram a avaliação de que a estratégia jurídica de Paulo Sérgio teria ampliado o desgaste de Bolsonaro em um momento decisivo do julgamento. Para advogados próximos ao caso, a fala deixou o ex-presidente em posição ainda mais vulnerável frente às acusações.

Enquanto isso, no Supremo, há uma leitura diferenciada sobre os papéis desempenhados por Paulo Sérgio e pelo general Augusto Heleno. Alguns ministros consideram que ambos tiveram participação distinta do núcleo mais ativo, embora não ignorem sua proximidade com os acontecimentos. Essa diferenciação pode influenciar no julgamento individual dos réus, mas não reduz o impacto político da defesa.

O episódio escancara a complexidade da crise institucional em análise. Ao mesmo tempo em que busca atenuar a responsabilidade de um general, a estratégia da defesa amplia a pressão sobre Bolsonaro e força o Supremo a lidar com novas camadas de tensão política em um processo que já se consolidou como divisor de águas para a democracia brasileira.