
Após a morte do papa Francisco, um conclave inédito pela diversidade de seus membros decidirá o futuro da Igreja Católica. São 133 cardeais, oriundos de 70 países, que se reúnem no Vaticano para escolher o novo pontífice. Trata-se da assembleia mais globalizada da história recente da Igreja, refletindo o esforço de Francisco em tornar o colégio cardinalício mais representativo.
O perfil dos votantes também mudou radicalmente. Enquanto no conclave de 2013 apenas 48 países estavam representados, agora surgem na lista nações como Mongólia, Laos e Mali. A maioria dos cardeais — 108 ao todo — foi nomeada pelo próprio Francisco, enquanto 21 foram indicados por Bento XVI e apenas quatro, por João Paulo II.
Apesar do grande número de nomeações feitas por Francisco, o voto de cada cardeal não é previsível. Muitos construíram suas trajetórias em diferentes pontificados e são independentes em suas decisões. Especialistas alertam que o conclave não deve ser visto como um embate entre conservadores e progressistas, como ocorre em disputas políticas tradicionais.
O contexto atual exige dos eleitores não apenas uma escolha ideológica, mas um compromisso com a continuidade e a unidade da Igreja. A busca será por um nome que dialogue com as realidades globais, sobretudo onde o catolicismo é mais desafiado, como na África, Ásia e Oceania. Assim, o novo papa deve ter perfil conciliador e visão estratégica para o futuro.
A idade média dos cardeais votantes é de 69 anos, com o ucraniano Mykola Bychok, de 45 anos, como o mais jovem, e o marfinense Jean-Pierre Kutwa, de 79, como o mais velho. As diferenças geracionais e culturais entre os eleitores também moldarão as dinâmicas internas do conclave, favorecendo alianças mais por afinidade pessoal do que por ideologia.
Entre os temas que marcaram o pontificado de Francisco estão a inclusão de minorias, o compromisso social e o fortalecimento das comunidades locais. Ainda assim, pautas polêmicas como a acolhida à população LGBTQIA+ ou o fortalecimento da participação feminina não deverão ser os critérios centrais na eleição do novo papa.
O que deve pesar mais é a capacidade de manter a estabilidade da Igreja em um momento de transição. Cardeais considerados moderados — o chamado “Centrão” — tendem a dominar as articulações, buscando um sucessor que represente avanços moderados e evite rupturas radicais, tanto à esquerda quanto à direita.
A assembleia também reflete uma mudança de mentalidade: se em 2013 a Igreja buscava uma saída para sua crise interna, agora o objetivo é consolidar e aprofundar as reformas iniciadas por Francisco. Nesse cenário, lideranças com experiência em diálogo inter-religioso, gestão de crises e atenção às periferias sociais ganham destaque.
Por fim, o fator humano não pode ser ignorado. O carisma pessoal, a capacidade de escuta e o equilíbrio emocional dos candidatos serão determinantes. A escolha do novo papa pode surpreender, mas terá como base o compromisso de preservar a unidade da Igreja, diante de um mundo cada vez mais complexo e multifacetado.