
Garantido abre a festa com vozes da floresta e ancestralidade
Coube ao Boi Garantido abrir a primeira noite do Festival de Parintins, nesta sexta-feira (27), com o espetáculo “O Ecoar das Vozes da Floresta”. Com forte apelo à ancestralidade e aos mitos da floresta, o boi vermelho e branco deu o tom da noite exaltando a força popular e as raízes do povo amazônico. A proposta faz parte do projeto “Boi do Povo, Boi do Povão”, que resgata elementos da cultura tradicional sob o olhar do coletivo.
A narrativa foi conduzida por lendas amazônicas e espiritualidade indígena. Destaque para a Lenda “Tapyra’yawara”, que ocupou o Item 17, e encantou a arena com simbolismos e cores. O ritual de encerramento, “Moyngo, A Iniciação Maragareum”, mergulhou o público em um universo de sabedoria ancestral e conexão com a floresta, trazendo à tona a visão espiritual e iniciática dos povos originários.
O coordenador de itens do Garantido, Lucas Vasconcelos, contou que a preparação para a apresentação levou mais de um ano.
“Trabalhamos cada item com carinho e disciplina. Sabíamos da importância da estreia e o quanto a galera vermelha espera um espetáculo grandioso. Garantido entrou com o coração pulsando forte”, disse o coordenador.
A emoção também estava nas arquibancadas. A torcedora Delma Sicsú, de 54 anos, compareceu mais uma vez à arena com sua camisa vermelha.
“É um sentimento que não se explica, é vivido. Ser Garantido é carregar a alma da Amazônia no peito. Sei que meu boi vai arrebatar mais uma vez”, afirmou com os olhos marejados.
Neste sábado (28), o Boi Garantido encerra a segunda noite do festival, que conta com apoio do Ministério da Cultura. A disputa segue acirrada e promete mais momentos memoráveis no Bumbódromo de Parintins, onde tradição e paixão caminham lado a lado.
Caprichoso enaltece lutas indígenas na arena do Bumbódromo
O Boi Caprichoso encerrou a primeira noite do 58º Festival de Parintins, na sexta-feira (27), com o tema “Amyipaguana: Retomada pelas Lutas”. O espetáculo reforçou a resistência dos povos indígenas e os saberes ancestrais da Amazônia, destacando a força das mulheres na preservação das tradições. Com alegorias imponentes e performances emocionantes, o azul e branco firmou sua proposta de luta e retomada de identidade na arena do Bumbódromo.
O presidente do boi, Rossy Amoedo, destacou o empenho da equipe em preparar o espetáculo. “Primeira noite sempre gera expectativa, mas o Caprichoso veio pronto. Foi um ano de muito trabalho e entrega para estar aqui hoje mostrando um boi forte, coerente e vibrante”, afirmou. O festival, realizado pelo Governo do Amazonas, segue até domingo (29), reunindo milhares de torcedores e apaixonados pela cultura do boi-bumbá.
Entre os destaques, a alegoria “Yurupari”, criada por Roberto Reis, trouxe à cena o mito da divindade indígena demonizada durante a catequização dos povos da floresta. A narrativa cênica buscou reverter esse processo, enaltecendo a espiritualidade originária e a reconexão com os valores da Amazônia.
Outro momento marcante foi a apresentação da Figura Típica Regional “Majés, as Senhoras da Cura”, assinada pelos Irmãos do Palmares. A homenagem às mulheres que dominam os saberes da medicina tradicional provocou forte emoção no público, reconhecendo o papel feminino na sustentação das comunidades ribeirinhas e indígenas.
O encerramento do boi azul aconteceu com o “Ritual Tupinambá: A Retomada da Verdade Originária”, uma criação de Jucelino Ribeiro. A encenação trouxe à arena a força dos rituais ancestrais e reafirmou a mensagem de reconquista dos territórios simbólicos dos povos originários. A noite terminou com a vibração da galera azulada, pronta para mais uma disputa épica no festival.