
A forte dependência do Brasil em fertilizantes russos reacende um alerta no agronegócio: o país pode ser o próximo alvo de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Nesta quarta-feira (6), o presidente norte-americano Donald Trump anunciou uma sobretaxa à Índia por adquirir petróleo da Rússia — um movimento que, segundo ele, contribui para a sustentação da guerra contra a Ucrânia. O Brasil, que já enfrenta uma tarifa de 50% em alguns setores, pode sofrer novas penalidades caso Washington decida ampliar o cerco econômico.
Especialistas afirmam que eventuais sanções sobre o comércio de fertilizantes impactariam diretamente os custos de produção agrícola e, consequentemente, o preço dos alimentos. Segundo o consultor Carlos Cogo, essa vulnerabilidade decorre do fato de que mais de 85% dos fertilizantes usados no Brasil são importados, principalmente da Rússia, Bielorrússia e Canadá.
Os principais insumos — nitrogênio, fósforo e potássio — são fundamentais para a composição do NPK, adubo essencial nas lavouras de soja, milho, cana-de-açúcar e café. Atualmente, o Brasil importa 95% do nitrogênio, 75% do fosfato e 91% do potássio que consome. A escassez de reservas minerais, altos custos logísticos e baixa competitividade da indústria nacional ajudam a explicar essa dependência.
Embora o governo federal tenha lançado o Plano Nacional de Fertilizantes em 2022, com a meta de elevar a produção interna para até 50% do consumo até 2050, os avanços são lentos. O plano prevê investimentos superiores a R$ 25 bilhões até 2030, mas ainda enfrenta gargalos em infraestrutura e incentivos à indústria local.
Enquanto isso, o setor agropecuário observa com cautela a escalada das tensões comerciais. Um novo “tarifaço” poderia comprometer o desempenho das safras e encarecer a cesta básica no Brasil, aumentando a pressão inflacionária em um cenário já desafiador.