
A pesquisa “Viver nas Cidades: Relações Raciais”, divulgada pelo Instituto Cidades Sustentáveis em parceria com a Ipsos-Ipec, revela que os espaços de consumo e trabalho são os locais onde o racismo mais se manifesta nas capitais brasileiras. Entre os entrevistados, 57% apontaram shoppings, lojas, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais como os ambientes com maior diferença de tratamento entre pessoas negras e brancas.
O levantamento ouviu 3.500 moradores de Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A percepção de discriminação nos espaços privados de acesso público aparece como um dado central. Segundo o instituto, esses locais concentram grande circulação de pessoas e desigualdades sociais mais evidentes, criando condições para que atos discriminatórios ocorram com maior frequência.
Embora a tendência seja semelhante entre as capitais, Salvador (65%) e Belém (62%) registraram os maiores índices de menção à discriminação racial em estabelecimentos comerciais. Manaus ficou abaixo da média nacional, com 50%. Para Igor Pantoja, coordenador do Instituto Cidades Sustentáveis, esses números reforçam a urgência de políticas antirracistas voltadas a setores que lidam diretamente com o público.
Depois dos espaços comerciais, o ambiente de trabalho é apontado como o segundo local onde o racismo mais se evidencia, citado por 44% dos entrevistados. A lista segue com ruas, parques e praças (31%), escolas e universidades (29%), transporte público (16%) e unidades de saúde (15%). Para Pantoja, a concentração de casos nos lugares mais movimentados mostra que o racismo acompanha a rotina urbana e se manifesta nas interações diárias.
A pesquisa também identificou que 10% da população das dez capitais acredita não haver diferença no tratamento entre negros e brancos, enquanto 12% não souberam responder. Mesmo assim, as medidas de combate apontadas pelos entrevistados mostram consenso sobre a necessidade de respostas públicas e privadas, especialmente por meio de políticas educativas e punitivas.
O aumento da punição para injúria racial e racismo foi defendido por 42% dos participantes, enquanto 34% destacaram a importância de abordar o tema nas escolas. Já o setor empresarial, embora associado a grande parte das denúncias, aparece com apenas 15% de menção entre as ações consideradas mais importantes para enfrentar o problema, o que reforça a demanda por maior engajamento.
A pesquisa também evidencia divergências entre brancos e negros quando o tema são as políticas afirmativas. Enquanto 18% dos brancos defendem a eliminação das cotas, apenas 12% das pessoas negras apoiam essa medida. Por outro lado, pretos e pardos mostram apoio mais expressivo à ampliação de cotas em setores de poder e universidades, indicando visões distintas sobre o caminho para reduzir desigualdades históricas.
No conjunto, os dados reforçam a dimensão estrutural do racismo nas grandes cidades brasileiras, tema que para 44% dos entrevistados deve ser enfrentado como prioridade por meio de políticas públicas. Segundo os pesquisadores, a persistência da desigualdade educacional, a baixa representatividade em cargos de liderança e a maior exposição da população negra a riscos ambientais e sociais evidenciam a necessidade de ações mais amplas, contínuas e integradas.









