
As ruas de todas as capitais brasileiras foram palco, neste domingo (21), da maior mobilização popular em apoio ao governo Lula desde as eleições de 2022. Mais de 80 mil pessoas se concentraram apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro para protestar contra a PEC da Blindagem e o Projeto de Lei da Anistia, medidas que favorecem parlamentares e condenados por tentativa de golpe. Os atos tiveram forte adesão de movimentos sociais, artistas e cidadãos descontentes com as decisões recentes do Congresso.
Na Avenida Paulista, em São Paulo, cerca de 42 mil pessoas participaram do protesto, segundo monitoramento da USP. Já em Copacabana, no Rio, o público foi semelhante, com mais de 41 mil manifestantes. O número superou outras mobilizações da esquerda nos últimos anos e se igualou ao patamar de protestos bolsonaristas recentes. A presença massiva ampliou a pressão sobre deputados que apoiaram a proposta, aprovada na Câmara na semana passada.
Artistas marcaram presença e deram tom político às manifestações. Em São Paulo, um enorme bandeirão verde e amarelo contrastou com a imagem do 7 de Setembro de apoiadores de Bolsonaro, que exibiram a bandeira dos Estados Unidos. No Rio, nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan e Paulinho da Viola conduziram a mobilização ao som de músicas históricas de resistência, reforçando o lema “sem anistia”.
As manifestações também ocorreram em Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Manaus e outras capitais, reunindo artistas e lideranças locais. Em Salvador, Wagner Moura e Daniela Mercury dividiram o trio elétrico, enquanto em Brasília o cantor Chico César fez um show em frente ao público. O tom geral foi de críticas ao Congresso e de defesa da democracia.
No Senado, a repercussão foi imediata. O relator da PEC, Alessandro Vieira (MDB-SE), confirmou que apresentará parecer pela rejeição já nesta quarta-feira, na Comissão de Constituição e Justiça. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), reforçou que pretende “enterrar” a proposta, classificando-a como impopular e “um passe livre para o crime”.
A movimentação também expôs fragilidades no Centrão e entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que buscavam avançar com a anistia. Deputados de partidos como PT, PSB e União Brasil chegaram a publicar vídeos nas redes pedindo desculpas por terem votado a favor da PEC da Blindagem, após a forte reação popular.
O governo Lula, por sua vez, aproveitou o momento para reforçar o discurso contra impunidade. Nas redes, o presidente destacou que “as manifestações demonstram que a população não quer blindagem nem anistia”, e que o Congresso deve focar em medidas que tragam benefícios reais à sociedade. O desfecho das propostas será testado nesta semana, em votações decisivas no Senado e na Câmara.