
Com a aproximação da COP-30, marcada para novembro de 2025, Belém, no Pará, enfrenta uma crise que vai além das questões climáticas: a escassez de leitos e a escalada desenfreada nos preços de hospedagem colocam em risco a realização do evento na capital paraense. Delegações internacionais têm relatado valores até 15 vezes acima do habitual, o que levou países em desenvolvimento a pressionarem pela mudança de cidade-sede.
A situação se agravou com denúncias de diárias que ultrapassam US$ 700 — em alguns casos, chegando a R$ 10 mil por noite. Em plataformas digitais, hospedagens com tarifas superiores a US$ 15 mil foram listadas, gerando indignação entre países da África, Caribe e até da Europa. Segundo relatos, o cenário ameaça a participação de representantes da sociedade civil e de delegações inteiras que não conseguem arcar com os custos.
A presidente da COP-30, a barbadiana Jennifer Morgan, confirmou que diversas nações pediram uma reunião de emergência junto à ONU para discutir a viabilidade de Belém continuar como sede. A principal preocupação é o risco de exclusão de países mais vulneráveis justamente em uma conferência que busca discutir justiça climática global.
Em resposta à pressão internacional, o governo brasileiro anunciou um pacote emergencial. Foram negociados 500 quartos com preços entre US$ 100 e US$ 300 para abrigar representantes de países menos desenvolvidos. Além disso, embarcações de cruzeiro com 6 mil cabines estão sendo mobilizadas para ampliar a capacidade hoteleira da cidade, que saltou de 18 mil para 36 mil leitos nos últimos meses.
O Governo Federal também articula o lançamento de uma plataforma oficial de reservas, com preços regulados, para evitar a especulação e garantir acesso equitativo. A medida foi tomada após o Procon Pará intensificar fiscalizações e prometer penalizar estabelecimentos com práticas abusivas.
Apesar do esforço, a crise expõe a fragilidade estrutural da capital paraense. A cidade foi escolhida por seu simbolismo geográfico e político, como porta de entrada da Amazônia, mas ainda carece de infraestrutura compatível com o porte de um evento internacional de tamanha magnitude.
Especialistas em relações internacionais alertam que o imbróglio pode impactar negativamente a imagem do Brasil, que pretendia fazer da COP-30 uma vitrine de sua política ambiental. A ONU e países aliados cobram soluções até o dia 11 de agosto. Caso contrário, a conferência pode ser transferida para outra localidade, ou ocorrer em formato híbrido, com perda de representatividade presencial.
Com a pressão crescente, a hotelaria de Belém tornou-se um obstáculo inesperado para o sucesso do maior evento climático do planeta. A expectativa agora é que medidas concretas e transparentes garantam a participação igualitária de todos — inclusive daqueles que mais sofrem com os efeitos da crise climática.