Fraude no INSS: 742 mil aposentados denunciaram descontos ilegais em 2024

Idosos aguardando na fila para o recadastramento de aposentados e pensionistas com mais de 90 anos, no posto de atendimento do INSS do bairro de Copacabana.

Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que 742.389 aposentados e pensionistas do INSS solicitaram o cancelamento de descontos associativos não autorizados apenas no primeiro semestre de 2024. A informação foi enviada formalmente ao Instituto Nacional do Seguro Social, com a recomendação de suspensão dos repasses, mas nenhuma medida foi tomada até então.

De acordo com a CGU, 95,6% dos beneficiários relataram nunca ter autorizado os descontos aplicados por entidades associativas diretamente na folha de pagamento. Os dados foram levantados junto aos canais de atendimento do INSS e apontam movimentações irregulares nas contas desde 2018. A prática motivou, na semana passada, uma operação da Polícia Federal que apura fraudes que podem ultrapassar R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.

As queixas dos segurados se concentraram em 11 entidades que já tiveram seus descontos suspensos por decisão judicial, mas há ainda outras 12 associações com mais de mil reclamações registradas. No total, as entidades com descontos ativos somavam cerca de 6,54 milhões de beneficiários, número que ainda está sob apuração para verificar a extensão real do prejuízo.

Em julho de 2024, a CGU encaminhou ao então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, os dados da auditoria, solicitando a interrupção imediata dos repasses para ao menos oito associações envolvidas. A recomendação foi ignorada. Stefanutto foi demitido no último dia 23, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, é alvo de críticas por ter sido alertado sobre o problema dez meses antes de agir. As informações da CGU embasaram judicialmente o bloqueio dos descontos e reforçam os indícios de negligência institucional no combate à fraude.