
O Teatro Amazonas viveu uma noite inesquecível de arte e inclusão nesta quinta-feira (24), com a apresentação da “Ópera no Mundo Azul”, um espetáculo especialmente adaptado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A ação faz parte do 26º Festival Amazonas de Ópera (FAO) e homenageia o mês de conscientização ao autismo.
Sob regência do maestro Marcelo de Jesus, o evento proporcionou uma experiência sensorial e afetiva para jovens autistas e seus familiares, que, em vez de apenas assistirem, subiram ao palco e interagiram com a música clássica. A iniciativa emocionou público e artistas, marcando mais um passo na democratização da cultura no Amazonas.
A noite foi marcada por sons suaves, luzes reduzidas e uma atmosfera acolhedora, adaptada às necessidades sensoriais do público com TEA. O maestro destacou a importância do gesto:
“Essa energia que vem do palco é de amor puro. A felicidade deles é visível, contagiante e nos transforma”.
A funcionária pública Virgínia Barros, mãe de Vinícius, de 21 anos, autista com grau severo, se emocionou ao poder levá-lo pela primeira vez a uma apresentação no Teatro.
“Eles sentem a música, movimentam o corpo e se sentem bem. Foi preciso muita terapia e dedicação familiar para chegar até aqui”, contou.
Outro momento de destaque foi a performance do pequeno Noah Malheiro, de apenas 7 anos. Filho do maestro Luiz Fernando Malheiro, ele encantou ao tocar “Marcha Soldado” e “Laranjada Doce” no violino, ao lado da professora Bárbara Soares. “Ele estuda todos os dias. Temos estratégias para ajudá-lo a se desenvolver e ele vem respondendo muito bem”, explicou a educadora.
O espetáculo faz parte do Festival Amazonas de Ópera, que tem patrocínio do Bradesco e apoio da Innova e Swarovski, por meio da Lei Rouanet, em parceria com o Governo do Amazonas e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
No palco, o que poderia parecer desorganizado aos olhos de quem não compreende o TEA — jovens se movimentando, batendo palmas e vocalizando sons — revelou-se como uma manifestação genuína de vivência musical. A música, que começou suave, evoluiu como em uma grande ópera, até alcançar seu ápice.
Clássicos como “Carmen”, “La Bohème” e “O Barbeiro de Sevilha” fizeram parte do repertório, sendo apresentados de maneira acessível e afetiva. “Talvez não se escute uma ópera inteira, mas eles escutaram trechos, se emocionaram, e isso é inclusão verdadeira”, declarou o maestro Marcelo.
O “Ópera no Mundo Azul” reafirma o papel transformador da arte e mostra que o Teatro Amazonas, mais do que palco de espetáculos, é também um espaço de afeto, inclusão e cidadania. Uma noite que reforça: cultura também é acolhimento.