STF manda prender Collor: ex-presidente é detido por corrupção e lavagem

Ex- Presidente Fernando Collor . Foto - Valter Campanato

O Brasil amanheceu com um novo marco em sua história política: o ex-presidente Fernando Collor de Mello, de 75 anos, foi preso nesta sexta-feira (25), em Maceió, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). A detenção ocorre após o ministro Alexandre de Moraes rejeitar os últimos recursos da defesa, consolidando uma condenação definitiva a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A prisão foi discreta, mas não menos simbólica. Collor, que afirmou se dirigir voluntariamente a Brasília para cumprir o mandado, foi interceptado ainda no aeroporto da capital alagoana por agentes da Polícia Federal. Ele é o terceiro ex-presidente preso desde a redemocratização do país, ao lado de Lula e Michel Temer, todos alvos da Operação Lava Jato em diferentes frentes.

O escândalo que arrastou Collor de volta ao centro das manchetes envolve o recebimento de R$ 20 milhões em propinas entre 2010 e 2014, quando era senador. Segundo o STF, o dinheiro foi desviado por meio de contratos fraudulentos entre a BR Distribuidora e empreiteiras. A decisão não cabe mais recurso e foi classificada como “monocrática” pela defesa, que se disse “surpresa” e “preocupada”.

A ordem de prisão imediata escancara a divisão no próprio STF. Moraes agiu de forma isolada, mas o plenário deve referendar ou não sua decisão em sessão virtual marcada para esta sexta-feira. Até lá, Collor segue preso na Superintendência da PF em Maceió, aguardando definição sobre onde cumprirá a pena.

A trajetória de Collor é marcada por altos e baixos. Em 1989, protagonizou a primeira eleição direta à presidência após a ditadura militar com o discurso de “caçador de marajás”. Mas seu governo entrou em colapso três anos depois, quando renunciou para escapar de um impeachment, acusado de corrupção em escândalos ligados a seu tesoureiro de campanha, PC Farias.

O ex-presidente passou mais de uma década longe da política até retornar como senador em 2006, cargo que manteve por 16 anos. Mesmo sob denúncias, Collor resistiu no Congresso com apoio político regional e blindagem parlamentar – até que a Lava Jato chegou ao seu gabinete.

A prisão de Collor reacende o debate sobre a responsabilização de ex-presidentes e a morosidade da Justiça brasileira. Sua condenação só foi concluída quase dez anos após a denúncia da Procuradoria-Geral da República. Nesse período, o ex-senador continuou exercendo mandato e mantendo influência em Alagoas.

Para especialistas, a detenção de Collor às vésperas de completar 76 anos simboliza o fim de uma era política marcada por impunidade e discursos vazios de moralização. “Quem se dizia caçador de corruptos agora colhe as consequências de seu próprio passado”, resume um analista ouvido pela reportagem.

A prisão de um ex-presidente é sempre um momento delicado para a democracia. Mas também representa um alerta: a política brasileira, embora ainda marcada por escândalos, não está mais imune ao alcance da Justiça – ainda que demore.